NOTA DA DIREÇÃO DO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO GERALDO REIS SOBRE O ENSINO A DISTÂNCIA DURANTE A PANDEMIA
A situação da pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19 – está impondo muitos desafios à população mundial, incluindo a necessidade de confinamento e a insegurança quanto à saúde e ao sustento. Os trabalhadores informais e os desempregados não sabem até quando terão pão em suas mesas, os empregados não sabem se receberão seus salários, e nenhum de nós tem certeza de que os serviços de saúde estarão disponíveis para todos se formos infectados. Atualmente, estima-se que cerca de 1 bilhão de estudantes se encontra com suas aulas suspensas por orientação das autoridades de saúde de seus países e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, são necessários alguns esclarecimentos.
1. Os princípios que norteiam nossa Escola – Educação Democrática, Educação Integral, Educação Plural e Educação Inclusiva – têm a ver, primordialmente, com a presença física de estudantes, professores e demais membros de nossa comunidade no espaço escolar, pois, sem que essa relação pedagógica aconteça, não poderá haver verdadeira inclusão de crianças e adolescentes.
2. A Educação a Distância, ainda que traga a vantagem de o estudante não precisar sair de casa, não é aconselhável para crianças e adolescentes, pois aprender sem ter um professor por perto é uma tarefa desafiadora para pessoas nessa faixa etária. Ressaltamos ainda que mesmo adultos relatam dificuldades com a EaD e são muitos os que abandonam os estudos nessa modalidade pela dificuldade em se adaptarem a ela.
3. A ideia de inclusão, em nossa Escola, “deve ser concebida como um processo e não um estágio final, não restrito a um grupo específico, considerando-se todo e qualquer sujeito em risco de exclusão, seja por raça, cor, etnia, religião, orientação sexual, gênero, condições físicas ou econômicas, de modo a garantir não apenas o acesso, mas a permanência e a experiência de sucesso escolar de todos os sujeitos presentes no contexto” (Projeto Político Pedagógico, 2019, p. 12. Mimeo).
4. A Educação Inclusiva, na perspectiva de dar oportunidades a todos os estudantes, jamais poderia ser bem-sucedida por meio da EaD, porque 22% das nossas famílias não têm um computador em casa; 52% não têm impressora; 86% têm apenas um ponto de acesso à internet e 7,5% não têm acesso à internet em casa. Nessas condições, oferecer aulas através da EaD para nossos estudantes reforçaria as desigualdades na aprendizagem ao invés de reduzi-las.
5. Além das condições tecnológicas que devem possuir tanto o professor quanto o estudante, ensinar a distância exige: pacote de dados adequado à transmissão das informações; treinamento específico para o(a) professor(a); tempo para que este(a) possa planejar e preparar todos os materiais escritos e audiovisuais, assim como os exercícios referentes a cada assunto de sua disciplina e a cada ano de escolaridade para o qual lecione; familiarização, por parte dos estudantes, com as ferramentas da plataforma escolhida para alocar os materiais, além de conhecimento específico sobre elas. Sem esses recursos tecnológicos e essa preparação, qualquer sistema de ensino que quiser usar a EaD para educar a distância tende ao fracasso escolar.
6. Empreenderemos esforços para minimizar os prejuízos ao processo de aprendizagem impostos pela situação de pandemia sob a qual nos encontramos. Ou seja, nosso compromisso não é só com o conteúdo, mas também com a qualidade que sempre norteou nosso fazer pedagógico.
7. Com intuito de garantir que a aprendizagem de nossos estudantes aconteça com a necessária qualidade, não lançaremos mão do regime excepcional de aprendizagem/ensino domiciliar. O ensino domiciliar, de modo análogo à educação a distância, esvazia o espaço-tempo de convivência entre os estudantes, professores e demais trabalhadores da educação, que compõem a nossa comunidade escolar, viva, diversa, pujante. Faz parte das aprendizagens necessárias à atuação na sociedade o aprender a viver e conviver com o outro, com o diverso, em colaboração e construção coletiva de conhecimentos e na resolução de problemas que o mundo moderno nos impõe.
A preocupação das famílias com a educação das crianças e adolescentes é legítima. Nesse sentido, como não há possibilidade de realizar Educação a Distância, recomendamos que, na medida do possível, os estudantes e os responsáveis possam estar envolvidos com leitura de livros, revistas em quadrinhos e outros materiais que vão proporcionar crescimento intelectual e entretenimento. Os que tiverem acesso a filmes e desenhos animados com conteúdo educativo, assim como a sites de estudos e de jogos educativos, devem aproveitar esses recursos. Entretanto, recomendamos que o celular não seja o melhor amigo de sua criança ou adolescente e que os integrantes de cada família aproveitem para estar ainda mais próximos uns dos outros, promovendo diálogo, momentos de lazer e várias brincadeiras que oportunizem maior interação, estabelecendo, assim, novas formas de aprender.
Em tempo oportuno, avaliaremos e reconstruiremos novo calendário escolar, com a antecedência necessária para organização de todos. Entendemos, como exposto na nota da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), “que o momento é de cautela e, principalmente, de extremo cuidado com a vida. A situação é muito dinâmica e diariamente são apresentadas, pelos órgãos sanitários e pelo poder público, novas diretrizes de ação coletiva e individual, o que nos demanda reavaliação constante dos nossos modos de agir, de pensar e de planejar e propor ações. Pedimos, sobretudo, calma e a adoção dos cuidados necessários à prevenção da disseminação do Coronavírus – COVID-19”.
Enquanto isso, aguardamos o retorno à normalidade em nosso amado país e em todo o mundo, acreditando na ciência e nos recursos públicos voltados para a Saúde e a Educação. Seguimos solidários aos profissionais da área da Saúde e àqueles que não puderam parar de trabalhar nesse momento tão difícil.
Cuidem-se, cuidem dos seus. E, se possível, fiquem em casa.
COLUNI-UFF
Niterói, 27 de Março de 2020.