Senhoras e Senhores Responsáveis e Estudantes,

No último dia 17 abril, o ministro da Educação Abraham Weintraub confirmou, durante live em uma rede social, a realização do ENEM, na versão impressa, com prova prevista para os dias 1º e 8 de novembro. Segundo ele, até lá, “a quarentena já terá passado e não há motivo para o adiamento do exame”. Diante disso, dirigimo-nos respeitosamente a vocês, a fim de esclarecer que a manutenção do calendário do ENEM, como se encontra, traz um enorme prejuízo a todos os estudantes. É preciso lembrarmos que praticamente toda a população mundial foi impactada pela pandemia da COVID-19. Então, não se trata apenas da grande dificuldade que nossos estudantes poderão ter para estudar para o ENEM com as aulas suspensas; trata-se, muito mais dramaticamente, de milhares de pessoas que estão adoecendo (milhares morrendo, infelizmente) e dos tormentos que a queda parcial ou brutal sobre a renda de muitas famílias está provocando nas pessoas neste momento. Há estudantes sem ter o que comer, ou tendo muito pouco. Quer queiramos ou não, tudo isso tem impacto profundo sobre aquele(a) jovem que está em distanciamento social em sua casa, tendo que se preparar para um exame complexo e competitivo. 

Portanto, realizar o ENEM no calendário previsto e na situação presente é reforçar as brutais desigualdades socioeconômicas presentes na sociedade brasileira. Essas desigualdades têm como consequência direta a enorme dificuldade de muitos jovens para o  acesso a tecnologias de informação, materiais de estudo ou mesmo a alimentos e a reservas financeiras que possam garantir o sustento e o bem estar da família como um todo – condição básica para que nossos estudantes construam conhecimentos necessários. 

Considerando, portanto, o que foi acima exposto, as enormes dificuldades que fizeram com que cerca de 1,5 bilhão de estudantes ao redor do mundo e quase 53 milhões de estudantes brasileiros ficassem sem aulas, que são as escolas e seus professores que orientam os estudantes quanto à solicitação de isenção da taxa do ENEM, quanto à sua inscrição e que orientam os estudos para o seu sucesso naquele exame,  manifestamo-nos veementemente contrários à manutenção do Calendário ENEM 2020 e reivindicamos que sejam prorrogados os prazos para solicitar a isenção da taxa do ENEM, para se inscrever no ENEM e para a realização dos exames. Reivindicamos, ainda, que esses prazos sejam estabelecidos apenas após o retorno às aulas, assim que estudantes, famílias, escolas e governo possam avaliar a extensão dos danos que a pandemia nos terá imposto. Além dos motivos já apresentados, não tem sentido manter o calendário de um exame que dá acesso às Universidades, as quais, em sua maioria, estão com seus calendários acadêmicos suspensos, ou seja, não será possível o ingresso desse aluno no calendário habitual.

Nossa juventude precisa continuar a sonhar, a acreditar que vem um lindo dia de sol após a forte tempestade pela qual estamos passando. Ser aprovado no ENEM e entrar em uma Universidade Pública é o sonho de muitos estudantes e de suas famílias – um sonho de dignidade, de cidadania e de independência econômica. Por isso, manter o calendário, nas condições em que o mundo vive, é transformar em pesadelo um sonho tão bonito, que está entre os mais belos que temos ao longo da vida. 

Reiteramos as recomendações das autoridades sanitárias nacionais e as da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que, sendo possível, fiquem em casa, preservando-se, cuidando-se, e preservando e cuidando dos seus. Esperamos muito em breve retomar, quando essa tempestade passar (e ela vai passar!), nosso convívio diário e semanal, para continuarmos a construir conhecimentos sobre o mundo e sobre todos os acontecimentos recentes!

Fiquem bem! Cuidem-se!

Respeitosamente,

COLUNI-UFF

Anexo: